terça-feira, 24 de maio de 2016

COMANDOS

   Veja bem, a vida é reflexo do que se tem, e daquilo que ainda teremos.
   Pois bem, quando amamos, o inútil ato de controle é desinstalado, fazendo com que todas as forças se percam e você que sempre foi tão seu, pertença a outro alguém, de dois viram um, veneno!
   O medo de dar errado, a autodefesa o lado contrário do sentimento, a incerteza tão certa de um começo e meio te aproximam do fim, de um voltam a ser dois, deixando para depois o que seria tão mais fácil ser vivido senão fosse a maldita insegurança de um destino.
   Acrescento o lamento de depositar em si próprio os mais inapropriados sentimentos de culpa, por não ser, estar, fazer e tentar.
  Digo, que nem toda distância faz bem, a ilusão te faz refém e o amor se perde em chão, o que um dia já foi ar, desaprende a voar e cai com impacto afetando o coração. 
   E se alguém um dia te disser que do seu lado sempre vai estar, não discordo em duvidar, mas se nos olhos te olhar, abrace! E saiba, que mesmo no fim de um último suspiro, abraço, riso, bobagem, troca de olhares, no final dos finais mais tristes ou feliz essa pessoa vai estar, sem medo de abandonar os próprios problemas para os teus carregar.
  Então, talvez o segredo seja não dificultar o que já é difícil, aceitar o imprevisto ato de amar e ser amado, sem procurar o certo e o errado, deixar de lado o que sempre esteve à sua frente, o medo. E que nunca seja ausente a livre forma de pertencer sem precisar, e o querer em se doar. 

Por: Luciana Barbosa

TEMPESTADE

   Dentro do ônibus,  todas as janelas  embacadas, me inclino encostando a cabeça ao vidro sentindo a frieza da superfície e tentando ver as coisas lá  fora, percebo que começa os primeiros pingos de chuva e fico me imaginando lá fora recebendo esses pingos no rosto. 
   A chuva fica cada vez mais grossa e me pergunto se ficarei muito molhada quando sair do meu abrigo, se tudo aquilo é passageiro, que o frio que sinto é  metafórico e que a chuva seria minhas lágrimas reprimidas que começam de vagar e quando vejo estou transbordando rios de lágrimas mas sem me molhar, apenas fico no meu abrigo sem revelar a tempestade que está dentro de mim e não lá fora. 
   - Você está bem? - escuto essa pergunta e retiro-me de meu transe para pensar na pergunta e observar o rosto a minha frente. 
   - Sim estou sim, obrigada. - então dou conta,  ele é um estranho me perguntando se estou bem. 
   - Não foi nada - ele sorri,  meio sem graça e eu ali observando seus olhos castanhos, seu cabelo mais bagunçado e seus ombros largos, resolvo retribuir o sorriso. 
   - Desculpe é  que estava te observando, daí te achei meio triste. - desculpa-se o rapaz que acabei de conhecer. 
   - Não foi nada,  só estava vendo a chuva. - que por incrível que pareça tinha parado no instante que ele apareceu. 
   - A sim, chuva são boas mas prefiro depois da chuva, esse tempo abrindo é  muito bom, ver as nuvens saindo e o sol aparece, aquecendo. - fala ele meio envergonhado. 
Confesso que depois daquelas nuvens ele foi o sol que aqueceu e parou a tempestade dentro de mim. As pessoas são importantes elas são o vento que podem trazer e tirar as nuvens das tempestades.

Por: Rúbia Cechinato

sábado, 30 de abril de 2016

VIVEMOS ROMEU E JULIETA

   Conhecendo um pouco mais sobre a famosa tragédia escrita por Shakespeare por volta de 1591, Romeu e Julieta, em um curso online, eis que me apresentam as seguintes perguntas que me colocaram em cheque:

   "Although we live in a very different world to that portrayed in Romeo and Juliet, do you think today’s teenagers can identify with these themes from the play? Are teenagers’ experiences and problems today the same as they were in Shakespeare’s time?

TRADUÇÃO:

   "Embora vivamos em um mundo muito diferente do retratado em Romeu e Julieta, você acha que os jovens de hoje podem se identificar com estes temas vindos da obra? As experiências e os problemas dos adolescentes atualmente são os mesmos que os da época de Shakespeare?"


   Ora, pensar em um casal de, aproximadamente, 13 anos impedido de se amar por causa da rivalidade mortífera entre suas famílias é algo meio absurdo para os dias atuais. Minha primeira - e tola - resposta às perguntas foi, então: "Claro que não!". 
 Direto e incoerente, esse "não" começou a perturbar meus pensamentos, me atormentando por julgar uma pergunta tão séria e relevante com uma resposta tão imprudente. Aos poucos a minha precipitada convicção foi ganhando a forma de um "será...?" que, por fim, a transformou por completo.
   Imagino que, de fato, as chances de existir um casal, mesmo que mais velho, com tanta sanguinolência intrínsecas às suas famílias, causadas por puro desgosto ou revanche sejam mesmo muito raros. Entretanto, como tudo na vida, não devemos levar as referências ao pé-da-letra, sim? Com esse raciocínio, descobri que, sim, ainda encaramos muitos problemas com relação ao amor, especialmente entre jovens e suas devidas famílias. Cheque-mate.



  Quantos, em pleno século XXI, ainda são separados do seu companheiro por conta da aversão ou desaprovação dos familiares? Uma mulher branca que se apaixona por um negro. Um rapaz que se apaixona por outro do mesmo sexo. Um rico que se apaixona por uma moça humilde. Uma cristã que se apaixona por um ateu. E até, inclusive, como vivenciamos, infelizmente, aqui no Brasil, um partidário "X" que se apaixona por um partidário "Y". 

   Se grupos como esses ainda pedem o respeito e aceitação da sociedade é impossível negarmos que não sofram com a desaprovação da população e, em vários dos casos, de suas famílias. Talvez a aversão não chegue ao extremo, como em Romeu e Julieta, contudo, os espancamentos, insultos e maldizeres que esses casais passam, não torna a história de amor deles tão menos trágica.
  Aquelas perguntas dão espaço a muitas outras reflexões e comparações, mas aqui foquei no ponto vital da obra: a rivalidade e o amor. E mesmo só com estes pontos é possível fazermos análises profundas e importantes.
   Se colocarmos todas as peças em jogo, talvez possamos perceber que, muito além daqueles pequenos exemplos que dei, a história entre Romeu e Julieta traz um grande significado para os nossos dias, para a nossa sociedade. 
São 425 anos de diferença e continuamos encontrando defeitos e falsos motivos para separamos os apaixonados.
    O casal de Shakespeare se perdeu por intrigas e pensamentos das gerações passadas. Hoje, muitos jovens permanecem sofrendo por conta de ideias enraizadas em suas famílias. 

   Temos ainda muito da obra Romeu e Julieta. E só deixaremos de ter, quando, no mínimo, aprendermos a acolher o amor em todas suas formas e não impormos mais condições para ele às próximas gerações. 



Por: Chloe Kinru

quarta-feira, 27 de abril de 2016

PALAVRAS

 "Coragem", "Confie", "Acredite" elas diziam, seduzindo-me pouco a pouco. Quando estávamos juntas prometiam tentadoramente acalentar meus temores, compreender pacientemente meus segredos, dar-me forças e respostas, mas, acima de tudo, estar comigo quando mais necessito. Tolo é aquele que não se deixa levar pelos seus caprichos, beleza e poder. Que mundo incrível elas guardam! Conquistaram-me avidamente e, cedendo, fiquei submersa em seu meio. Talvez me afogue por conta das tão doces promessas, porém tornou-se impossível viver sem vocês, Palavras.

Por: Chloe Kinru

terça-feira, 26 de abril de 2016

PEÇA DA VIDA

O show acabou as luzes se acendem e a saída é a mesma, porém pessoas tomam rumos diferentes e acabam se perdendo na escuridão e seu único amigo são seus gritos e choros que ecoam nesse espaço.
É lamentável que uns tenham nascido com a grandeza dentro deles e outros a grandeza foi exposta.
É lamentável perder um amigo enquanto você está tentando consertar algo que se perdeu.
É lamentável deixa-lo ir como se nada tivesse acontecido.
É lamentável ver as cortinas se fechando e ele dizendo adeus em um simples boa noite, disfarçado com tristezas e lágrimas.
É lamentável me pegar chorando e pensando que eu só queria consertar as coisas.
É lamentável a nossa história, porém gosto de vivê-la e recordá-la.

Não importa quão lamentável seja.

Por: Rúbia Cechinato

RIO DA MINHA VIDA

A vida voa, passa. E a vivacidade pra viver Anda-me escassa. Já nem sou quem pensei ser... Sem mais nem menos O tempo se foi, silenciosamente. Distante, com breves acenos, Despediu-se incontente. Esperei o que nunca aconteceu, Adiei, e nunca fiz. Paro, não penso; nem por um instante. A vida é um rio constante, Em que se faz e se diz, E deve-se achar graça do que viveu.
Por: Aila Aron

segunda-feira, 25 de abril de 2016

OLHE E PENSE!

Olha para mim! E diga, o que você vê?
Olhe e finja que tudo esta normal entre nós.
Olhe e pense que pode ser a última vez que irá ver meus olhos!
Olha para dentro de mim e veja se ainda possuí alguma felicidade quando estou com você!
Olhe mas não olhe apenas com seus olhos encantadores e sim com seu coração e vai descobrir que nem você esta a onde devia estar.
Olhe e descubra que somos pessoas tão diferentes que não se encaixamos em nenhum sentido.
Olhe e veja o que você fez com você mesmo e como afetou as pessoas ao seu redor.
Olhe e não canse de ver como tudo está destruído ao seu redor.
Olhe e tira suas conclusões de como tudo ainda pode piorar.

Olhe e não canse de olhar e descobrir maneiras de sair deste mundo caótico e destruído que construímos.

Por: Rúbia Cechinato

SIGNIFICADO DA PALAVRA AMOR

   Pediram-me para escrever e eu escrevo me pediram para ser quem eu sou e eu sou, me pediram para amar... E eu amo? Hum... Não sei amar é complicado é nas entrelinhas, é na risadinha fofinha daquela garota que você olha e olha e perde em seus pensamentos, imaginando como seria estar com ela em todos os lugares possíveis ou ficar admirando o rosto de seu amado enquanto o sol bate em seus olhos e você fica bobo, sem reação, as palavras fogem, escrever se torna difícil, ser eu mesma já não é tão fácil, quando esse sentimento atinge e você flutua sem ver a altura... A o amor é uma palavra chocante e quando o sentimento invade seu corpo, sua mente e todas as suas ações, amar é lindo e têm tantas formas, jeitos, demonstrações que é até complicado achar seu verdadeiro significado em tantos amores.

Por: Rúbia Cechinato

PÔR-DO-SOL

   Sentado com ela vendo o pôr-do-sol, muitos papos jogados fora, altas risadas, nossos corações conectados com aquela visão do sol saindo de cena com calma e graciosidade e ela ali do meu lado sorrindo com a alma, mostrando como seria os dias com ela, como seriam maravilhosos e que iriam durar como a saída do sol calmo, tranquilo e ao mesmo tempo quente e elegante, que garota! Que mulher...

Por: Rúbia Cechinato

quinta-feira, 21 de abril de 2016

UM BEIJO NA CHUVA

   Anunciada por grandes nuvens cinzentas, senti as primeiras gotas de chuva deslizarem por meu rosto. Fechei os olhos e ergui a cabeça, deixando-me ser envolvida por elas. Parecia que cada gota era como um delicado beijo vindo do céu. Eu adorava essa sensação e estava apreciando-a quando Jeremy me distraiu: 
   — Ly, vamos sair daqui, está começando a chover! — ele franzia a testa e levantava-se, cobrindo a cabeça com uma das mãos e estendendo a outra para mim.
   Deixei a ajuda dele de lado e, me apoiando sobre meu joelho, fiquei em pé, de frente para ele. Encarei-o e arqueei uma sobrancelha, sorrindo de modo zombeteiro, provoquei-o:
   — O que foi, bobo? Tem medo da chuva, é? Aproveita, vamos nos divertir!
   Jeremy me olhou de um modo engraçado, não sabendo se eu estava falando sério ou apenas querendo tirar sarro dele. Grossas mechas pretas de seu cabelo já grudavam molhadas em seu rosto e sua roupa ficava cada vez mais encharcada. Eu não estava muito diferente, é claro. Porém, eu não estava nem um pouco incomodada com isso.
   Ele segurou minha mão e começou a me puxar, levando-me para algum lugar onde pudéssemos nos proteger. Puxei com força a mão, libertando-me e balancei negativamente a cabeça, recusando a ir.  
   — Ly, deixa disso! Vamos sair logo daqui. Você não quer ficar resfriada, quer? Vem depressa! — Jeremy falou num tom forte, entretanto sem parecer indelicado. Ia novamente em busca de minha mão, mas, segundos antes dele segurá-la, escapuli e corri para longe.

   Jogando a cabeça para traz, como que aborrecido, ele suspirou. Quando voltou a me encarar, seu olhar estava diferente, parecia selvagem. Jeremy começou a correr atrás de mim com toda a velocidade. A minha vantagem era que eu estava um tanto afastada, mas ele vinha tão rápido que também tive que começar a correr para escapar dele. Eu ria e soltava pequenos gritos sempre que ele, por pouco, me alcançava. Fugi de um lado para o outro, sempre despistando-o.
   Até que, de repente, ele parou, no meio da rua olhando para o chão. A noite já havia chegado e somente as luzes na rua iluminavam o local. Por conta da escuridão não conseguia ver exatamente a expressão em seu rosto. "Será que ele ficou bravo?", pensei preocupada. Indecisa se devia me aproximar ou não, fui aos poucos com cautelo.
   Quando estávamos alguns pés de distância, Jeremy deu uma gargalhada e veio direto para cima de mim. Assustada com a reação inesperada, paralisei e tão logo os braços dele envolveram-me num abraço caloroso.
    Ficamos um tempo assim: parados, deixando que a chuva e o tempo tomassem conta de tudo. Nossas preocupações pareceram esvanecer. Então, sussurrando, Jeremy segredou em meu ouvido doces palavras que fizeram meu coração palpitar apaixonado.
  Olhei em seus olhos. Eles brilhavam como se toda a felicidade do mundo estivesse reunida naquele par de verdes-acastanhados. "Tão lindo...", pensei. Ambos sorríamos, como bobos apaixonados. Por fim, sugeri:
   — Um beijo e eu me rendo.
  Ele apoiou as mãos em minha cintura e me puxou para mais perto, colando nossos corpos um no outro. Chuva, frio, noite, nada mais importava. O beijo aquecia-me por inteira. Parecia até um sonho: um beijo na chuva.

Por: Chloe Kinru




segunda-feira, 21 de março de 2016

HIPNOSE DA VIDA

- Sra Aline! Está pronta?
- Sim doutor... pode iniciar...
- 18 de janeiro de 1966 o que está acontecendo?
- Sinto-me incomodada... apertada a 9 meses e estou pronta para “ganhar o mundo”! Mas, tudo começa a ficar difícil! 
- Madrugada do dia 19 ...
- Meu coração acelera muito, começo a “travar uma guerra” para poder sair e é complicado!
- 19 de janeiro de 1966, quarta-feira, 13h45...
- Termina minha luta e inicio outra! A luz do lugar incomoda meus olhos... é estranho começar a respirar... preciso chorar! (...) Vislumbro minha mãe, pela primeira vez! Ouço sua voz e ela me acalma! Tudo está bem embaçado, mas, sinto-me segura!

(...)

- 1972...
- Entro no prézinho... acho divertido fazer amizade com outras crianças... gosto da minha professora... ela é alta, bonita e atenciosa! Descubro que o mundo que vejo é bem turvo, enevoado (...) minha mãe me levanta bem cedo, não entendo bem porque, mas, sei que vou a um médico de olhos (...) 
(...)
Colocam 2 vidros com um aro no meu rosto e o mundo fica mais lindo de uma hora para outra! 

(...)

- 1974...
-  Estou na igreja, com várias crianças... uma senhora carinhosa e meiga está a frente! Ela ensina-me a cantar músicas alegres e bonitas que falam sobre o amor de Deus por mim, sobre a natureza que Ele criou, sobre seu Filho Jesus Cristo, sobre ser obediente e reverente! Começo ter muitos sentimentos bons sobre isto!

(...)

- 1978...
- Sou uma pré-adolescente bem envergonhada, que usa óculos “fundo de garrafa”, adora estudar e dar muita risada! Começo a me interessar por música! Alguém me convida para cantar no coral da igreja e eu aceito! As músicas que canto são lindas e inspiradoras (...) Canto Largo de Xerxes e Aleluia de um compositor chamado Haendel e sinto uma forte certeza de que realmente Deus existe e me ama! (...) Escuto a vizinha da frente tocar piano e aquilo me atrai para o instrumento (...) Começo a enveredar pelo mundo das notas, ritmos e melodias!

(...)

- 1982...
- Sou uma jovem que adora rir de tudo! Divirto-me o tempo todo! Continuo a gostar de estudar e aprender sobre muitas coisas! Tenho várias “amigas”, mas, sinceras e verdadeiras somente três! Entre elas, minha querida mãe! (...) Mesmo tímida, arrisco participar de uma apresentação teatral na igreja e descubro que tenho talento! Minha timidez começa a ir embora!

(...)

- Novembro de1987...
- Entro na igreja, de vestido de noiva, com meu pai! A capela está lotada! Estou ansiosa, mas, não nervosa! No caminho, até o altar, começo a chorar de emoção! Meu futuro marido, um tanto nervoso, me aguarda! Ele é um homem bom, charmoso e bonito! A cerimônia inicia junto com uma nova, deslumbrante e desafiadora fase de minha vida!

(...)

- Dezembro de 1988...
- Sofro 12 horas de muitas dores, mas, o serzinho que veio depois disto, faz esquecer todo o flagelo e me torno mãe! O dia, apesar de nublado, parece ser o mais lindo de todos!

(...)

- Quase 4 anos depois disto...
- Um outro bebezinho nasce o qual me trás muitas e emocionantes alegrias! Sinto-me tão grata por cuidar de uma criaturinha tão frágil e pura! 

(...)

- 2000...
- Vivo um ano inteiro de bastante preocupação com minha mãe que se interna no hospital, com câncer pela 2ª vez! Temos o apoio de muitos amigos, a força do Senhor e da família! Tudo fica bem no final!

(...)

- 2002...
- Estou me formando numa faculdade! O lugar é um dos maiores teatros da América Latina! Toda minha família está lá e grandes amigos! Sinto-me comovida por ter chegado até ali e por ter me divertido tanto aprendendo coisas importantes sobre a Arte!
No mesmo ano, inicio minha carreira como professora e ela me dá muitas alegrias! Sinto que faço a diferença para melhor na vida de muitas crianças e adolescentes mostrando a beleza e riqueza da Arte para eles! Isto me realiza!

(...)

- 2015...
- Ano bem difícil para o mundo, mas, muito gratificante para mim, pois vislumbro a felicidade de minhas filhas casando-se com ótimos rapazes!

- Agora você está “voltando” senhora Aline...1,2,3...(...) 2016...
- Hoje, faço 50 anos! Meio século de uma vida cheia de estímulos, duelos e proezas! Doutor... posso olhar para trás e dizer com toda certeza do coração que minha vida teve significado, propósito e direção! Sou grata! Sou feliz!

Por: Aline Milk

ESPELHO QUEBRADO

   Ontem, sem querer (claro), quebrei um pequeno espelho, bem bonito, do meu marido, que usava no banho para fazer a barba. 
   Na hora da “tragédia”, ele estava na sala e eu no banheiro, falei brincando: - Pazinho (é assim que o chamo – PA de PAixão) desculpe... é que... além de termos 7 anos de azar, to te devendo um espelho! 
   Claro que ele não ficou nada feliz com o acontecido e não vou repetir a sua resposta aqui, porque não vale a pena...! Mas, fiquei pensando no assunto!
   Quantas vezes alguns “espelhos” são quebrados nas nossas vidas?! Damos então, a célebre desculpa: “O espelho quebra e dá até pra juntar os cacos e tentar colar um no outro, mas, nunca será o mesmo espelho de antes”! 
   Não concordo com isto!
   Aprendi, talvez a duras penas, que SIM: “Podemos colar os cacos e transformar o espelho quebrado em novo... talvez até, melhor do q era antes!”. SIM! Podemos perdoar e esquecer tudo e até mais, podemos optar por não nos magoarmos, não nos ferirmos!
   Sempre teremos duas escolhas e aprendi, inteligentemente, a preferir a parte que me trará mais paz e felicidade em relação à melindres! 
   Na maioria das vezes, as pessoas não ferem com intenção! Sempre procuro analisar o por quê daquela atitude ruim em relação a minha pessoa e, em geral, encontro algo que me fará reconstruir o ressentimento em compreensão! E, se detecto real vontade de ofender, claro, fico triste e me afasto um pouco, mas, não me demoro remoendo aquilo e pior, querendo devolver “na mesma moeda”! 
   Vingar-se é algo próprio do ser humano e não é nada bom, pois, já experimentei!            Depois, senti-me pior do que o ofensor! 
   Sei que é uma luta, mas, é possível sanar TUDO! 
   Rancor é cancerígeno! 
   Portanto, reconstruamos nosso ESPELHO a cada dia e com certeza teremos mais saúde, mais paz de espírito, mais alegria e mais jovialidade, porque, vamos combinar: torturar-se por dissabores, além de nos deixar mais enfermos, nos enruga... Ficar mais velho até vai, mas, mais enrugado, nunca!

Por: Aline Milk

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

AQUELA CANÇÃO

Eu prometi a você,
Numa noite fria,
Sob as estrelas e a lua
Que cantaria aquela canção...

Queria que fosse inesquecível,
Que expressasse todos os meus sentimentos.
Mas agora você não pode ouvir minha voz,
E nem eu posso ouvir a sua.

Agora, sob aquele mesmo céu,
Eu canto para você,
Desejando que possa ouvir aquela canção
Mesmo que já seja tarde demais.

Porque tudo o que eu queria
Era que soubesse o que sinto por você.
Porque naquela noite fria
Eu prometi dizer o quanto te amei...

Por: Aila Aron

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

PORTA-RETRATO

   Existe tantas lembranças em um porta-retratos. Podem ser elas boas como o de um aniversário colorido, repleto de pessoas querendo eternizar aquele momento e, no entanto, também podem guardar lembranças dolorosas, tal como um ente querido que te deixou.
   Na vida, há pessoas que vem e outras que ficam. E aquela foto que hoje está atrás de outras, um dia esteve na frente. O retrato que ela guarda, por mais que não queira ver novamente, se nega a jogar fora. É de alguém que já te fez muito feliz. Mas ela te esqueceu e agora ficou numa foto em um porta-retratos sem valor.
   Dias passam e a poeira invade as estantes. Hora de limpar cada foto. Pega uma por uma e logo chegam as recordações: a casa, com cheiro de comida doce, da tia que mora longe, a casa dos pais, onde você morou parte de sua vida. Lembra-se da fragrância adocicada da mãe e o odor forte que seu pai tinha. Sente saudade e uma vontade louca de abraçar cada um. Porém, você está longe e a única maneira de matar a nostalgia são com os porta-retratos.
   Incrível como um objeto simples é capaz de trazer tantas recordações, momentos e consolações que tornaram-se eternizados.

Por: Rúbia Cechinato

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

BUSCA

   Ele olhava ao redor, sem se importar com o tempo que passava. Parado na saída do metrô, observava o mundo à sua volta como se não precisasse ir embora. Voltar para sua casa, para seus problemas. Ficou apenas ali sentado, esperando algo acontecer. Mas o quê? Por quê? Nem ele seria capaz de explicar.
   A rua estava movimentada, o dia esvaindo com o sol que se punha em algum canto da cidade. As pessoas estavam ocupadas demais para prestar atenção nas coisas comuns, simples e únicas que perdiam. Exceto aquele homem; que simplesmente parou para observar.
   - O que você está fazendo? – perguntou alguém;
  - Esperando – ele respondeu sem qualquer reação. Nem mesmo a encarou, continuou olhando somente para frente.
   - O que exatamente?
   - Qualquer coisa! Talvez até mesmo sua presença! Não sei dizer, só estou aqui esperando, olhando. - falou encarando-a, para ver se era aquilo que precisava, mais não sentiu nada.
   - Você... Não acha que deveria ir atrás, ao invés de ficar aqui parado? – ela perguntou com indignação.
   - Por que? É melhor esperar, sei que algo vai acontecer – o homem disse com ar frustrado.
   - Algo aconteceu. A cada instante acontece, mas aqui está você: parado.
   - Mas ficar aqui esperando é melhor, mais confortável. Experimenta! Não quer se sentar? – ele falou ignorando o comentário dela.
   - Claro que não! Nem você deveria! Não percebe que o mundo está passando e ficar sentado não o ajudará a aproveita-lo?! – retrucou com tom irritado. Era inacreditável que ele quisesse ficar ali sem fazer nada. Determinada, ela o ajudaria, independentemente do tempo que levasse.
   - Mas eu estou desfrutando das pequenas coisas, como o vento de verão, o sol se indo lá longe, nos avisando que mais um dia já se foi e ninguém se dá conta disso porque estão com pressa demais.
   - Sim... mas e o resto? E as coisas grandes? Aventuras, descobertas, lugares, pessoas! Tudo isso faz parte da vida. Viver significa arrisca-se.
   - Está me dizendo para ignorar os pequenos detalhes? – questiona-a.
   - Não. Pelo contrário! Leva-se tudo com você na mente e no coração. E os eventuais espaços, preenche-se com novos lugares, pessoas e aprendizagens! No entanto, para isso acontecer, é preciso levantar e seguir em frente.
   - Então... Eu tenho que levar as pequenas e grandes coisas juntas?
   - Isso! Sim! – diz a mulher, animada.
   - Sendo assim, acho que devo fazer algo. Estabelecer metas, quem sabe. Começarei já! Obrigado! Aliás, como é o seu nome? – pergunta com um sorriso esclarecido e de agradecimento.
   - Chamo-me Esperança. Aquela a ser a última a morrer em cada um. Aquela que você quase perdeu e que só as palavras não são suficientes, pois são pelas ações e escolhas que o ajudarão a se reerguer. – sorriu para ele como se soubesse de todos os segredos do mundo.
   Foi quando, no momento que o rapaz ia dirigir-se a ela, uma forte chuva começou. E, num piscar de olhos, a mulher havia sumindo, deixando para trás ele e as lições.

Por: Rúbia Cechinato

domingo, 31 de janeiro de 2016

RESENHA: O MEU PÉ DE LARANJA LIMA

INTRODUÇÃO
   Durante a infância, a imaginação deve ser a principal aliada de qualquer criança. A fuga que um mundo de fantasias proporciona é essencial para conseguir contornar as imperfeições e dificuldades da realidade. Mesmo que isso signifique tornar um pé de laranja lima seu melhor amigo. 
   José Mauro de Vasconcelos recheou a obra "O Meu Pé de Laranja Lima" da ingenuidade e criatividade do universo infantil. Embora também apresente o aperto que Zezé passa junto de sua família paupérrima e as broncas que ele leva ao longo da história, o pequeno garoto encanta seus leitores com suas travessuras, sonhos e reflexões sobre a vida. 

SOBRE A OBRA
   De origem brasileira, contudo publicado em diversos países, o livro de Vasconcelos é, na verdade, uma autobiografia. 
   O livro, segundo o autor, foi escrito surpreendentemente em apenas doze dias. No entanto, ele afirma que a obra já estava pronta a vinte anos na sua mente. "Quando a história está inteiramente feita na imaginação é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então, vai tudo a jato." (José Mauro de Vasconcelos). 
   "O Meu Pé de Laranja Lima", publicado em 1968, não tardou a ganhar adaptações para o cinema, assim como para diversas peças e novelas. Em 2003, na Coreia do Sul, tornou-se, inclusive, quadrinhos para os fãs. 
   O primeiro filme do livro, liderado por Aurélio Teixeira, foi lançado em 1970. No mesmo ano a TV Tupi encarregou-se de apresentar também a primeira novela. Anos mais tarde, 1980 e 1998, novas novelas foram criadas, mas dessa vez exibida, ambas as vezes, pela Rede Bandeirantes. Até o momento (27/01/2016), a última cinematografia de "O Meu Pé de Laranja Lima" foi estreada em 19 de abril de 2013, no Festival do Rio, sendo dirigida por Marcos Bernstein.

(FILME DIRIGIDO POR MARCOS BERNSTEIN - 2013)
A HISTÓRIA 
   Vindo de uma família humilde e com o pai desempregado, Zezé, o protagonista, e sua família encaram complicações financeiras. Uma destas inclui os atrasos no aluguel da casa onde moram, o que os forçou a se mudarem de lá. Além disso, a mãe, bem como os irmãos de José (Zezé), que não passam de adolescentes, são obrigados a trabalhar para tentar ajudar com as despesas e o novo aluguel. Até mesmo o pequeno narrador de somente cinco anos ocupa-se como engraxate algumas vezes durante o livro. 


(ZEZÉ TRABALHANDO)

   Já na nova casa, uma tradicional brincadeira entre os mais novos é a escolha de uma árvore para si. Claro que quanto mais frondosa, alta e exuberante, melhor para ostentar-se aos irmãos. Começa a busca pela árvore perfeita, mas, por ser o segundo mais novo, Zezé acaba não conseguindo vencer a corrida e chegar até as melhores árvores, sobrando para ele, no fundo do quintal, apenas um pé de laranja lima. 
   Emburrado, tenta protestar, inutilmente. Glória, irmã mais velha, tenta convencê-lo de que a pequena árvore é a ideal, uma vez que, por exemplo, ambos cresceriam juntos, entre outras qualidades. Mas ele nega-se a ser otimista. Até que, num momento, a laranjeira fala com o garoto. Abismado, começa a conversar com a arvorezinha e, a partir desse momento, uma bela amizade se inicia.
   Abusando do imaginário, Zezé diverte-se com Minguinho (pé de laranja), do mesmo modo que nos passeios no "Jardim Zoológico" e noutros jogos que compartilha com seu irmãozinho Luís ou, como gosta chama-lo, "Rei Luís". O estupendo mundo que José cria para se divertir é extremamente belo e com o doce sabor da ingenuidade infantil. As cavalgadas no galho, bem como as feras do "zoológico" que o autor descreve, fazem também o leitor participar da brincadeira, tornando a leitura muito mais divertida.
   Todavia, nem todas as aventuras no livro são ingênuas. O garoto adora aprontar. E todas, ou melhor, quase todas, as suas traquinagens vem acompanhadas de boas surras. Embora haja malandragens, o garotinho apresenta um bom coração e costuma pensar mais naqueles que ama do que em si mesmo. Há ainda a sutileza de seus sonhos, como querer tornar-se um "sábio e poeta e usar gravata de laço." (O Meu Pé de Laranja Lima).


(CENA DO FILME DE MARCOS BERNSTEIN)
   Depois de muitas façanhas, descobertas, reviravoltas e amizades, chega a tragédia. São, na verdade, dois momentos que sem dúvida apertam o coração do leitor. E também o de Zezé. É a partir desses acontecimentos que nota-se a dolorosa e gigantesca mudança no personagem. Desacreditado na bondade das pessoas e em sua própria sorte, juntamente ainda com o ceticismo que esmaga a imaginação e ingenuidade do narrador, este chega a pensar em suicídio. É o amadurecimento de José e Minguinho que revelam o final da história.

IMPRESSÕES E OPINIÕES


   A obra carrega consigo uma leitura simples e agradável que é tanto para um adulto como para uma criança. Não é por se tratar de uma narrativa vinda de um garotinho que Vasconcelos deixou a linguagem infantilizada. É claro que, como estamos falando de um livro infanto-juvenil, não será algo complexo, mas o autor, admiravelmente, consegue adaptar a escrita para agradar qualquer idade. 
   Acredito que muitos, assim como eu, se identifiquem com a criatividade do personagem para complementar suas brincadeiras. Lembro-me muito bem de como adorava brincar com os meus 'amigos imaginários' e Zezé também mostra esse mundo fantasioso, mesmo que à sua maneira. Portanto, reafirmo a importância de incentivar a imaginação das crianças. Tanto para o protagonista, quanto para mim e muitas outras pessoas, esse mundo de fantasias deve ter sido a melhor época de nossas vidas. Nem todo mundo têm uma infância tão saborosa, é verdade. Contudo, todos deveriam experimentar as maravilhas de um universo só seu, criado como você bem quiser; e isso independe da condição financeira, como comprova José. Depende apenas de si.
   A escrita de Vasconcelos consegue também te fazer sofrer, rir, animar-se e desapontar-se junto do menininho. Detalhe também a ressaltar é o carinho que criamos com os personagens. Mesmo que Zezé seja o mais querido, sua irmã Glória, o "Rei Luís" e até o Pé de Laranja Lima, bem como outros personagens, também adquirem a admiração e respeito dos leitores. 
   Além de toda a graça da narrativa, a carga emocional que o livro carrega em si, visto que é uma biografia, eleva ainda mais a obra. Nem todas as crianças saberiam lidar com os acontecimentos que são descritos. E é interessante acompanhar como José Vasconcelos supera esses obstáculos, apesar de, no fim, acabar como a maioria: esquecendo a criança sonhadora que existiu em nós. 


(CENA DO FILME DE MARCOS BERNSTEIN)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

RESENHA: LARANJA MECÂNICA

(CAPA DA EDIÇÃO DE 50 ANOS)

INTRODUÇÃO

   De acordo com o filósofo francês, Jean-Paul Sartre, "o homem está condenado a ser livre", ou seja, sempre teremos a liberdade de escolha, mesmo quando parece não haver. Entretanto, supondo que pudéssemos vender essa nossa liberdade em troca de um mundo pacífico, qual a melhor opção? Considerando que a violência torna-se cada vez mais presente e forte no nosso cotidiano, a ideia de uma vida segura pode parecer muito atrativa. Mas até que ponto a paz pode ser estimada? Será que arrancar a agressividade humana a força, que, consequentemente, acarretaria em destruir a essência dos indivíduos, seria mesmo algo benéfico? E o Estado, que efetivaria essa manipulação dos marginais, não acabaria por se tornar um governo totalitário, julgando de acordo somente com seus interesses? Essa, e muitas outras perguntas, são trazidas à nossa reflexão na grandiosíssima obra de Anthony Burgess: Laranja Mecânica. 

ORIGEM DA OBRA

   Em 1960, Anthony Burgess recebeu o diagnóstico de um tumor cerebral que lhe permitiria, no máximo, um ano de vida. Preocupado em como ficaria sua esposa após a partida, o autor decide escrever dez livros nesse período para que ela, com os direitos autorais, pudesse ficar mais confortável. Durante esta corrida contra o tempo e a morte, surgiu o rascunho de Laranja Mecânica. No entanto, o tempo previsto para que a moléstia o dominasse já havia esgotado e a Laranja era apenas o início do sexto entre dez pretendidos. Por um feliz erro médico, o autor não veio a falecer -na verdade, viveu aproximadamente quarenta anos depois da trágica notícia. 
   Foi na viagem para Leninegrado com sua esposa que Burgess conseguiu o que faltava para a narrativa e finalizou, inspirada em muitas experiências, o tão fascinante livro Laranja Mecânica, que foi publicado em 1962.
   Anos mais tarde, em 1971, Stanley Kubrick transforma a literatura de Burgess em um filme de grande sucesso, que concebeu diversos prêmios e críticas e traz a mesma ousadia e singularidade do livro.  


                     

SOBRE A OBRA

   A história, que trata-se de uma distopia, é ambientada numa Inglaterra futurística, onde a ultraviolência promovida por gangues tornou-se um gigantesco desafio para o Estado. Este, por sua vez, acreditando achar a solução, experimenta um tratamento completamente desumano: lavagem cerebral. O resultado, por mais que destruísse qualquer espécie de agressividade da vítima, juntamente levava seus prazeres e gostos, transformando-a em um zumbi ou, como o autor se refere, uma Laranja Mecânica. 
   Para dar a obra um aspecto de futuro, o autor reconciliou as tradicionais gírias usadas por gangues inglesas naquele tempo com palavras em russo, dando origem à linguagem "nadsat". Frequentemente usada no decorrer da leitura, à primeira vista, esse estilo de fala pode ser um tanto quanto incômodo e extremamente estranho para o leitor. Porém, essa foi a principal intenção de Burgess, pois assim a leitura pareceria transcorrer em outra época, além de demonstrar os reais dialetos que as gangues usam entre si. Embora na versão brasileira do livro exista um glossário no final do livro, na obra original o leitor era forçado a interpretá-las enquanto lia. 
   Apesar de muitos se sentirem desconfortáveis por essa decisão do autor, no decorrer da leitura você consequentemente se acostuma, já que as palavras são colocadas de forma que sejam facilmente compreendidas. É até engraçado pois você fica tão submerso nessas gírias que, sem querer, muitas vezes acaba se expressando como os personagens, visto que torna-se algo natural, devido a repetição constante no texto.
   
(CLOCKWORK ORANGE: título original)

A HISTÓRIA 

   Narrada pelo protagonista da história, Alex é um garoto de 15 anos que, juntamente com seus "druguis" (leia-se: amigos) gosta de andar de noite nas ruas frias e escuras da cidade em busca de vítimas para seus brutais ataques. Estes, por sua vez, incluem desde o espancamento a pessoas de idade avançada, até o estupro de garotas de 10 anos e assassinato. 
   O prazer em ver o sangue é tão intenso que eles chegam a criarem uma espécie de "teatro invisível", ou seja, vão até a casa das pessoas inventando alguma história trágica para que estas se solidarizem, mas na primeira brecha que encontram, a gangue aproveita para invadir e cometerem os mais diversos tipos de crueldade. Sem contar os muitos defeitos que tentam encontrar, ou até mesmo inventar, para usarem como desculpa para as agressões em passantes na rua. 

(ALEX  E SUA GANGUE APÓS ESPANCAREM UM BÊBADO NA RUA. Cena do filme.)

   No entanto, não são apenas os cidadãos do bem que sofrem na mão desses jovens delinquentes. As brigas entre tribos urbanas também são frequentes e podem ser até pior, por conta de ocorrem verdadeiras guerras entre elas. 
 Alex, embora sinta essa insaciável necessidade de submeter os outros à sua força e também gostar de beber o famoso "Moloko" (ou, como chamado na versão brasileira: "leite-com"), um leite que possuí uma droga sintética misturada, o garoto é fissurado por música clássica, sendo Beethoven seu compositor favorito. Ao escutar esse estilo musical, o personagem sente uma enorme euforia, de fato um êxtase. Outro detalhe é sua repulsa por nojeiras. Simplesmente não suporta. Mostrando que, assim como qualquer ser humano, ele também tem suas paixões, opiniões, manias e, principalmente, imperfeições.
  Numa de suas malandragens com os "druguis", ou como assim gostava de pensar, a polícia, que persegue incansavelmente a gangue do protagonista, têm exito em sua missão e captura o pequeno narrador, levando-o imediatamente para a prisão.
   Os casos de selvageria tornaram-se tão intensos e imprudentes que, mesmo com advogado, Alex foi sentenciado a quatorze anos de prisão. Nesta parte da história, um detalhe a ressaltar, é a reação dos policiais e do próprio P.R.Deltoid (advogado de Alex) que, como agentes do bem, deveriam jamais abusar de sua autoridade e, contudo, investem ferozmente sobre Alex. Alegam que "violência gera violência", mas é perceptível a tão doce vingança, para não dizer, prazer em seus atos; revelando que, como qualquer ser humano, todos temos um lado perverso.
   Enquanto cumpri sua pena, o jovem narrador tenta portar-se de acordo com a lei, todavia com intenções às escondidas. É quando, num certo dia, ele ouve algo sobre a "Técnica Ludovico" e interessadíssimo nela, dado que ela garantia ao condenado nunca mais retorna-se ao "zoológico humano" -como Alex costumava se referir- e ainda reduzir de forma significativa a detenção, ele decide tornar-se cobaia do experimento.
     O que o rapaz não esperava é que esse tão milagroso tratamento fosse, na verdade, uma sessão de tortura atrás de outra, bem como o fim de sua humanidade. Amarrado numa cadeira, com presilhas que não lhe permitiam fechar os olhos por um momento sequer, as imagens transmitidas mostravam desde gangues como as dele cometendo os mais terríveis atos violentos, do mesmo modo que filmagens feitas dos mais impiedosos delitos realizados pelo Nazismo. Em consonância com os filmes, uma boa dose de droga era injetada no braço de Alex, fazendo assim que ele associasse o mau estar do remédio com as cenas assistidas.


(MÉTODO LUDOVICO. Cena do filme)

   De fato, em quinze dias o garoto está solto e não consegue nem machucar uma mosca. A bem da verdade, nem pensar nisso. E este torna-se um problema gigantesco. O antes tão impiedoso e valente Alex agora não passa de um incapaz de se defender, de levantar um dedo contra o agressor, levando-o a fazer qualquer coisa para em uma situação de violência, inclusive autodepreciação. Mulheres que atrairiam a atenção e desejo de qualquer homem são, para ele, apenas poesia, no tempo em que os outros homens literalmente babam de excitação. Sexo? Não, isso não existe mais para Alex. Ele estava "curado". Uma recuperação que o privava de escolha ética, impelindo a sempre fazer tão e somente o bem, a qualquer custo. É a partir deste momento que, na visão do autor, o personagem deixa de ser humano, pois, segundo Burgess, "quando um homem não pode escolher, deixa de ser homem".
   Talvez, a pior parte dessa técnica para o protagonista tenha sido não conseguir escutar mais sua tão amada música: Nona Sinfonia (Beethoven). Unicamente o que fazia-o sentir-se vivo antes, virou uma estrondosa tortura. No entanto, os médicos avaliam e tornam essa deturpação como nada mais que uma frase poética: "Cada homem mata a coisa que ama" (Laranja Mecânica).
   O Estado, que se vangloriou pelo ilusório sucesso no tratamento, não havia percebido o prejuízo que causou a Alex. E tão só foi se preocupar com o tipo de método que haviam usado quando o jogo começou a reverter. 
    Depois de muitas reviravoltas existentes no livro, ao final, Alex, já com 18 anos, começa a refletir sobre tudo o que passara até ali. E, lentamente, como ele percebe, a maturidade vai domando-o e, mesmo ao voltar a ter liberdade de escolha, agora a ultraviolência não passava de uma infantilidade. Essa mudança é entendido por ele como um "ciclo natural", uma vez que todos vem a ajuizar-se.

IMPRESSÕES E OPINIÕES


  Laranja Mecânica mostra sua genialidade logo no título. A explicação é que, do mesmo modo que a laranja, uma fruta natural e que cada uma é única, as pessoas também o são. Outra semelhança é que elas igualmente nascem, crescem e amadurecem. Apesar de alguns demorarem um tempo a mais. A questão é: será que vale mais manter uma laranja azeda que ainda pode vir a amadurecer ou modificar todas, transformando-as em mecânicas, sem cheiro, sem sabor, sem... laranja?
   O âmago da obra é justamente o que é ser: humano. Ninguém é tão bom que não tenha, ao menos pensado, em fazer alguma maldade a alguém, seja por vingança, desejo ou poder. E é exatamente isso que Anthony Burgess nos mostra ao revelar que até as pessoas de acordo com a lei são capazes de fazer, como já havia citado anteriormente no texto. Além disso, a ideia de "curar o mal" é fantasiosa, pois ela é inerente do homem e, como o próprio Alex usa em sua defesa, não nessas palavras, mas no sentido: Se uns podem escolher o bem, por que não posso escolher o mau? E é nessa parte que podemos puxar um pouco o lado religioso. Se, conforme os cristãos, até mesmo Deus nos deu o livre arbítrio, como poderia o homem impôr a bondade?
   NÃO estou dizendo que concordo com as atitudes do personagem. Muito ao contrário, acho absurdo que alguém seja capaz de fazer essas selvagerias, ainda mais em nome da diversão. Entretanto, acabar com a humanidade em prol de um suposto bem maior de nada adiantaria. 

   Sem contar, "Ó, meu irmãos" (referência ao livro), que o poder que o governo teria sobre a vida de todos seria monstruoso. Se hoje, com tantas leis que tentam prevenir injustiças, bem sabemos como muitos políticos mentem e tentam infringir os próprios regulamentos a fim de tirar vantagens para si, imaginem só se pudessem julgar e, em seguida, fazer uma lavagem cerebral nos cidadãos para saírem impunes. Definitivamente, seria uma ditadura, um completo totalitarismo e, nós brasileiros conhecemos bem o quão doloroso estes são, já que ainda temos a ferida exposta de uma barbaridade destas. 

   A ideia de Burgess ao criar o "nadsat" (linguagem das gangues futuristas) foi bem bolada. Possivelmente muitos desistam da leitura por conta dela. Contudo, se você quer uma dica, aconselho a mergulhar de cabeça no livro. Eventualmente pode ser que seja necessário conferir uma ou outra palavra, mas o melhor é sofrer com o estranhamento no início e, pode ter certeza, se você insistir, logo estará não só familiarizado como querendo se expressar com ela. 
    Por último, mas não menos importante, posso afirmar que, ao menos para mim, o livro mudou meus pré-conceitos sobre a paz a qualquer custo. Eu evolui com a leitura e refleti, prazerosamente, muito em cima dela -tanto para escrever a resenha, quanto por se tratar de uma leitura instigante. Um ótimo livro para se ler que, no mínimo, uma lição se aprende.