Durante a infância, a imaginação deve ser a principal aliada de qualquer criança. A fuga que um mundo de fantasias proporciona é essencial para conseguir contornar as imperfeições e dificuldades da realidade. Mesmo que isso signifique tornar um pé de laranja lima seu melhor amigo.
José Mauro de Vasconcelos recheou a obra "O Meu Pé de Laranja Lima" da ingenuidade e criatividade do universo infantil. Embora também apresente o aperto que Zezé passa junto de sua família paupérrima e as broncas que ele leva ao longo da história, o pequeno garoto encanta seus leitores com suas travessuras, sonhos e reflexões sobre a vida.
SOBRE A OBRA
De origem brasileira, contudo publicado em diversos países, o livro de Vasconcelos é, na verdade, uma autobiografia.
O livro, segundo o autor, foi escrito surpreendentemente em apenas doze dias. No entanto, ele afirma que a obra já estava pronta a vinte anos na sua mente. "Quando a história está inteiramente feita na imaginação é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então, vai tudo a jato." (José Mauro de Vasconcelos).
"O Meu Pé de Laranja Lima", publicado em 1968, não tardou a ganhar adaptações para o cinema, assim como para diversas peças e novelas. Em 2003, na Coreia do Sul, tornou-se, inclusive, quadrinhos para os fãs.
O primeiro filme do livro, liderado por Aurélio Teixeira, foi lançado em 1970. No mesmo ano a TV Tupi encarregou-se de apresentar também a primeira novela. Anos mais tarde, 1980 e 1998, novas novelas foram criadas, mas dessa vez exibida, ambas as vezes, pela Rede Bandeirantes. Até o momento (27/01/2016), a última cinematografia de "O Meu Pé de Laranja Lima" foi estreada em 19 de abril de 2013, no Festival do Rio, sendo dirigida por Marcos Bernstein.
A HISTÓRIA
Vindo de uma família humilde e com o pai desempregado, Zezé, o protagonista, e sua família encaram complicações financeiras. Uma destas inclui os atrasos no aluguel da casa onde moram, o que os forçou a se mudarem de lá. Além disso, a mãe, bem como os irmãos de José (Zezé), que não passam de adolescentes, são obrigados a trabalhar para tentar ajudar com as despesas e o novo aluguel. Até mesmo o pequeno narrador de somente cinco anos ocupa-se como engraxate algumas vezes durante o livro.
Já na nova casa, uma tradicional brincadeira entre os mais novos é a escolha de uma árvore para si. Claro que quanto mais frondosa, alta e exuberante, melhor para ostentar-se aos irmãos. Começa a busca pela árvore perfeita, mas, por ser o segundo mais novo, Zezé acaba não conseguindo vencer a corrida e chegar até as melhores árvores, sobrando para ele, no fundo do quintal, apenas um pé de laranja lima.
Emburrado, tenta protestar, inutilmente. Glória, irmã mais velha, tenta convencê-lo de que a pequena árvore é a ideal, uma vez que, por exemplo, ambos cresceriam juntos, entre outras qualidades. Mas ele nega-se a ser otimista. Até que, num momento, a laranjeira fala com o garoto. Abismado, começa a conversar com a arvorezinha e, a partir desse momento, uma bela amizade se inicia.
Abusando do imaginário, Zezé diverte-se com Minguinho (pé de laranja), do mesmo modo que nos passeios no "Jardim Zoológico" e noutros jogos que compartilha com seu irmãozinho Luís ou, como gosta chama-lo, "Rei Luís". O estupendo mundo que José cria para se divertir é extremamente belo e com o doce sabor da ingenuidade infantil. As cavalgadas no galho, bem como as feras do "zoológico" que o autor descreve, fazem também o leitor participar da brincadeira, tornando a leitura muito mais divertida.
Todavia, nem todas as aventuras no livro são ingênuas. O garoto adora aprontar. E todas, ou melhor, quase todas, as suas traquinagens vem acompanhadas de boas surras. Embora haja malandragens, o garotinho apresenta um bom coração e costuma pensar mais naqueles que ama do que em si mesmo. Há ainda a sutileza de seus sonhos, como querer tornar-se um "sábio e poeta e usar gravata de laço." (O Meu Pé de Laranja Lima).
Depois de muitas façanhas, descobertas, reviravoltas e amizades, chega a tragédia. São, na verdade, dois momentos que sem dúvida apertam o coração do leitor. E também o de Zezé. É a partir desses acontecimentos que nota-se a dolorosa e gigantesca mudança no personagem. Desacreditado na bondade das pessoas e em sua própria sorte, juntamente ainda com o ceticismo que esmaga a imaginação e ingenuidade do narrador, este chega a pensar em suicídio. É o amadurecimento de José e Minguinho que revelam o final da história.
IMPRESSÕES E OPINIÕES
A obra carrega consigo uma leitura simples e agradável que é tanto para um adulto como para uma criança. Não é por se tratar de uma narrativa vinda de um garotinho que Vasconcelos deixou a linguagem infantilizada. É claro que, como estamos falando de um livro infanto-juvenil, não será algo complexo, mas o autor, admiravelmente, consegue adaptar a escrita para agradar qualquer idade.
Acredito que muitos, assim como eu, se identifiquem com a criatividade do personagem para complementar suas brincadeiras. Lembro-me muito bem de como adorava brincar com os meus 'amigos imaginários' e Zezé também mostra esse mundo fantasioso, mesmo que à sua maneira. Portanto, reafirmo a importância de incentivar a imaginação das crianças. Tanto para o protagonista, quanto para mim e muitas outras pessoas, esse mundo de fantasias deve ter sido a melhor época de nossas vidas. Nem todo mundo têm uma infância tão saborosa, é verdade. Contudo, todos deveriam experimentar as maravilhas de um universo só seu, criado como você bem quiser; e isso independe da condição financeira, como comprova José. Depende apenas de si.
A escrita de Vasconcelos consegue também te fazer sofrer, rir, animar-se e desapontar-se junto do menininho. Detalhe também a ressaltar é o carinho que criamos com os personagens. Mesmo que Zezé seja o mais querido, sua irmã Glória, o "Rei Luís" e até o Pé de Laranja Lima, bem como outros personagens, também adquirem a admiração e respeito dos leitores.
Além de toda a graça da narrativa, a carga emocional que o livro carrega em si, visto que é uma biografia, eleva ainda mais a obra. Nem todas as crianças saberiam lidar com os acontecimentos que são descritos. E é interessante acompanhar como José Vasconcelos supera esses obstáculos, apesar de, no fim, acabar como a maioria: esquecendo a criança sonhadora que existiu em nós.
O primeiro filme do livro, liderado por Aurélio Teixeira, foi lançado em 1970. No mesmo ano a TV Tupi encarregou-se de apresentar também a primeira novela. Anos mais tarde, 1980 e 1998, novas novelas foram criadas, mas dessa vez exibida, ambas as vezes, pela Rede Bandeirantes. Até o momento (27/01/2016), a última cinematografia de "O Meu Pé de Laranja Lima" foi estreada em 19 de abril de 2013, no Festival do Rio, sendo dirigida por Marcos Bernstein.
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(FILME DIRIGIDO POR MARCOS BERNSTEIN - 2013) |
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(ZEZÉ TRABALHANDO) |
Já na nova casa, uma tradicional brincadeira entre os mais novos é a escolha de uma árvore para si. Claro que quanto mais frondosa, alta e exuberante, melhor para ostentar-se aos irmãos. Começa a busca pela árvore perfeita, mas, por ser o segundo mais novo, Zezé acaba não conseguindo vencer a corrida e chegar até as melhores árvores, sobrando para ele, no fundo do quintal, apenas um pé de laranja lima.
Emburrado, tenta protestar, inutilmente. Glória, irmã mais velha, tenta convencê-lo de que a pequena árvore é a ideal, uma vez que, por exemplo, ambos cresceriam juntos, entre outras qualidades. Mas ele nega-se a ser otimista. Até que, num momento, a laranjeira fala com o garoto. Abismado, começa a conversar com a arvorezinha e, a partir desse momento, uma bela amizade se inicia.
Abusando do imaginário, Zezé diverte-se com Minguinho (pé de laranja), do mesmo modo que nos passeios no "Jardim Zoológico" e noutros jogos que compartilha com seu irmãozinho Luís ou, como gosta chama-lo, "Rei Luís". O estupendo mundo que José cria para se divertir é extremamente belo e com o doce sabor da ingenuidade infantil. As cavalgadas no galho, bem como as feras do "zoológico" que o autor descreve, fazem também o leitor participar da brincadeira, tornando a leitura muito mais divertida.
Todavia, nem todas as aventuras no livro são ingênuas. O garoto adora aprontar. E todas, ou melhor, quase todas, as suas traquinagens vem acompanhadas de boas surras. Embora haja malandragens, o garotinho apresenta um bom coração e costuma pensar mais naqueles que ama do que em si mesmo. Há ainda a sutileza de seus sonhos, como querer tornar-se um "sábio e poeta e usar gravata de laço." (O Meu Pé de Laranja Lima).
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(CENA DO FILME DE MARCOS BERNSTEIN) |
IMPRESSÕES E OPINIÕES
A obra carrega consigo uma leitura simples e agradável que é tanto para um adulto como para uma criança. Não é por se tratar de uma narrativa vinda de um garotinho que Vasconcelos deixou a linguagem infantilizada. É claro que, como estamos falando de um livro infanto-juvenil, não será algo complexo, mas o autor, admiravelmente, consegue adaptar a escrita para agradar qualquer idade.
Acredito que muitos, assim como eu, se identifiquem com a criatividade do personagem para complementar suas brincadeiras. Lembro-me muito bem de como adorava brincar com os meus 'amigos imaginários' e Zezé também mostra esse mundo fantasioso, mesmo que à sua maneira. Portanto, reafirmo a importância de incentivar a imaginação das crianças. Tanto para o protagonista, quanto para mim e muitas outras pessoas, esse mundo de fantasias deve ter sido a melhor época de nossas vidas. Nem todo mundo têm uma infância tão saborosa, é verdade. Contudo, todos deveriam experimentar as maravilhas de um universo só seu, criado como você bem quiser; e isso independe da condição financeira, como comprova José. Depende apenas de si.
A escrita de Vasconcelos consegue também te fazer sofrer, rir, animar-se e desapontar-se junto do menininho. Detalhe também a ressaltar é o carinho que criamos com os personagens. Mesmo que Zezé seja o mais querido, sua irmã Glória, o "Rei Luís" e até o Pé de Laranja Lima, bem como outros personagens, também adquirem a admiração e respeito dos leitores.
Além de toda a graça da narrativa, a carga emocional que o livro carrega em si, visto que é uma biografia, eleva ainda mais a obra. Nem todas as crianças saberiam lidar com os acontecimentos que são descritos. E é interessante acompanhar como José Vasconcelos supera esses obstáculos, apesar de, no fim, acabar como a maioria: esquecendo a criança sonhadora que existiu em nós.
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(CENA DO FILME DE MARCOS BERNSTEIN) |
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